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Bem-amada.

março 10, 2010

Aquele que pretende no entanto sentir na brecha apenas um prazer técnico, experimenta nela também essas emoções significativas, mas envoltas em seu sentimento da fragilidade da brecha que as desvela a seus próprios olhos. E eu mesmo, vendo na brecha a mais vasta e a mais universal possibilidade da vida e da morte, do mar e do céu, nela percebo também o que seu encanto tem de mais particular e único, oh querida bem-amada.

rapidinhas (brechas abrem).

março 4, 2010

As brechas e paixões secretamente anseiam vantagem. Lutar contra isso é bobagem.

Esbugalhos (Olhos são Brechas).

março 2, 2010

Alguns homens passam por esta vida de olhos esbugalhados. Vemos em seus olhos reflexos de imensidão e perplexidade. E se um dia lhe perguntam – por que olhos tão salientes? – sobressaído, ainda, hão de devorar-te na escavadura de negros feixes oleos’úmidos.

Esbugalhados enfim, deitamo-nos. Lembro de ter fundido-me em encantadores feixes púrpuros, ainda com os olhos abertos fronte ao confuso espelho da brecha de tuas pupilas. E já não era mais o meu – ou o teu – braço – nuca – tornozelo – nuca – nuca. Tua mão meu pescoço. Fundimo-nos, e isso teve nos anulado como um feixe desfalecido e tranquilo. Acordo e vejo a luz, já é dia.

Vejo-me em teus olhos: paredro.

Minh’alma a flor do rosto.

De todos os olhos, o olho.

Redondo e profundo: buraco negro.

Fundo – pantanoso – úmido – meigo.

Alguns seres morrem desta vida também esbugalhados.

Da Brecha.

março 2, 2010

A Brecha sempre houve. A brecha “é”. Teria vontade própria? Seria involuntária? Nunca se soube. O que se sabe sobre a brecha é justamente o que, na Brecha, se pode ver, como o feixe de luz que atravessa a fresta e se mostra como possibilidade de abertura e de caminho. Sem essa luz, sem a brisa que atravessa a fresta, sobre a Brecha nada se sabe.

De que é feita a Brecha? Em que consiste a brecha como possibilidade de abertura? O olhar inquisidor, repleto de malicia, vê na brecha o seu motivo de existir.

O primeiro contato antes do fundir-se de seres, surge na possibilidade desse fundir. A fusão tem na Brecha sua origem.

As Brechas são funduras do fazer.

É neste exato momento – em que se acha ter capturado o significado da Brecha – que o homem se vê saqueado por sua racionalidade. A razão não dá conta, sozinha, das ambigüidades da Brecha.

Costuma pensar nas brechas? E no que você sabe ter visto por entre elas?

“Mas a brecha não é adequação, mas desvelamento. Não existe brecha em si, mas brecha para o homem, porque ele acredita nela. O homem é expectativa de brecha. A brecha é inerente ao homem, mas com a qual ele não coincide.” Expectativa de Brecha germânica, até então não anunciada como tal.

A Fenda, irmã de abertura extrema e alongada, senta-se no baile de pernas cruzadas. Já a Brecha, senta de pernas abertas.

A brecha não é um bem.

A brecha é o alvo, e a seta.

A Brecha é a brisa que agita a macieira.

Poderíamos dizer: “A brecha é involuntária, mas tem vontade própria”.

Sem luz, não há brecha.

Brecha é vislumbre e consumação.

De pé, em papo, um papo de Brecha. Ela quer ser lembrada, quer ser inscrita, infundida, emanada. Ela, a Brecha.

Prólogo de Brecha Antiga.

fevereiro 24, 2010
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A brecheira exala luz. A brecheira cheira luz – exala. Jeshua olhos-de-brecha, tal como águia, fareja rastro luminoso por faro aguçado por treino às cegas. Sente, olha, confirma e, emocionado com tal feixe-promessa, assim diz aos infortunados olhares sem-olho-de-brecha:

”De onde crês que surge tal feixe que por entre brechas serve anúncio ao prodigioso fundir-se de seres brecheiros?”

Tal pergunta confunde em toda praça os infortunados. Dentre eles um-qualquer retruca ao olhos-de-brecha:

”E de onde crês tu que de todo feixe cante anúncio de prodigioso fundir-se?”

Jeshua de braços abertos e peito sem invólucros retruca ao um-qualquer:

”Ousadia considerar fim onde tal promessa apenas se anuncia. Onde perseguem-se fins, aplicam-se os meios. Onde reina a finalidade, também há de imperar a brecheridade”.

Por entre as bocas de sorriso, falsos murmúrios e gargalhos surgiam em polpas. Todos de Jeshua chacoteavam em meio aos coros. Dentre todos, um sábio senhor, com faces enrugadas e proles de oito filhos, assim disse ao olhos-de-brechas:

”Sábias palavras dizes meu filho perspicaz, que de bocas afiadas em retruques faltam ouvidos apurados. Sabedoria das brechas mesmo eu com tal avanço de idade ciente fico que quando luz vejo entre muros logo sorriso cedo aos divinos por tal graça à meus cansados olhos ainda concederem.”

Mais murmúrios entre povo elevam-se sonoros. Dessa vez não se ouve mais gargalhos. Jeshua confiante agora confia em discurso por apoio de ancião que entre povo respeitado apóia graça de olhar feixe-de-luz onde Jeshua diz ver brecha. Diz então aos infortunados em resposta com véu de graça sobre os ombros:

”Desde que inicío relato de feixe-de-brecha que mal me ouves, ó vós dentre todos mais hábeis em palavras. De que valem palavras se, em brecha, se encontra, nas ausências, sua abertura? Onde se jogaria o jogo que articula os modos da brecha apresentar-se como abertura? Qual feixe de luz brilharia falso dentre todos os feixes que poderiam ser entendidos como tal?”

Silêncio pela primeira vez se ergue. Longos momentos sem murmúrios até que o mesmo um-qualquer toma a voz do discurso e aos infortunados se dirige também como defensor de palavra invés de feixes:

”Sê anúncio pela luz, sê anúncio pelo verbo. Dentre eles, onde sustentaria tal evidência que afirmas tu, Jeshua de olhos-de-brecha, em feixes se abrir caminho como forma de abertura ao fundir-se de seres antagônicos?”

Sorriso eleva-se em face de Jeshua. Pensa ele estar adentrando brechas mesmo ao defrontar tal desavenças de verbos entre os infortunados. Tal questão a ele se dirige. E com braços abertos e peito sem invólucros retruca a um-qualquer:

”Seja anunciando verbalmente que de ouvidos apurados necessita-se para com amplo peito diluir-se em significados. Seja com feixes anunciando que de visão-de-brechas necessita-se o ser-fusão sensível aos feixes tal quanto ao verbo. Abertura é em ambos os casos. Vos ensino assim, ó dentre todos mais hábeis aos verbos, o Caminho da Brecha!”